quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Morrendo de tédio


Richard Romancini

Fino psicólogo social, o filósofo Schopenhauer notara que os principais inimigos da felicidade humana são o tédio e a dor. Paradoxalmente, ao nos afastarmos de um desses sentimentos, o outro se torna mais provável. Assim, os pobres e necessitados, que precisam lutar por sua sobrevivência, têm sofrimento, mas não tédio. Já aqueles que escapam das dificuldades sociais e econômicas são mais propensos ao aborrecimento e à sensação de vazio. A reflexão me veio à mente a propósito de duas experiências culturais desse fim de ano, relacionadas ao tédio, ao sofrimento e à vida escolar.

Vamos primeiro ao sofrimento. No belo filme Pai Patrão (dirigido por Paolo e Vittorio Taviani, 1977), a primeira sequência é marcante. O pai vai à escola do filho disposto a tirá-lo de lá, pois entende que ele precisa trabalhar, seguindo as tradições da gente humilde de então (o filme, baseado numa história real, se inicia na Sardenha, na Itália da década de 1940). A figura autoritária do pai faz com que o menino levante-se de sua carteira e fique em pé; nervoso, urina nas calças. A professora tenta consolá-lo, mas não pode fazer nada e o menino deixa a aula com o pai.

Logo após a saída dos dois, os alunos fazem uma algazarra, riem do xixi nas calças do colega. Porém, o pai retorna à sala e repreende os alunos, diz que eles não devem rir de seu filho e faz uma advertência: hoje é ele que é tirado da escola para trabalhar, mas em breve serão os outros. A classe fica em silêncio, e os diretores do filme mostram os pensamentos preocupados de alguns alunos. Aqui, há dor e sofrimento, mas não tédio. A escola era um anteparo a um cotidiano cinzento, feito de obrigações muitas vezes cansativas e dolorosas.

Cortando para 2013, nos dirigimos ao tédio. Ao tédio fortemente vinculado à escola e seu cotidiano. De acordo com a reportagem de Amanda Ripley (Bored to Death: To learn just how bored kids are in school, look at Twitter) para a New Republic, o tédio expresso pelos estudantes no mundo todo é uma espécie de epidemia. A matéria apresenta indicadores e casos interessantes. São mostrados tweets e fotos dos próprios estudantes sobre o que estariam sentido na (ou pela) escola. Algumas produções são imaginosas e divertidas, pois como nota uma aluna, com aguda consciência do caráter público de sua imagem/mensagem: “Tweetar um tweet chato parece contraproducente”.

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Foto: Flickr/theirhistory (CC BY-NC-SA 2.0)

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