quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ideias - tradução
O futuro da educação superior será online?* (2/3)


Nathan Heller

Quando as pessoas se referem à “educação superior” neste país, elas estão falando sobre dois sistemas. Um deles é de elite. Ele é feito em faculdades seletivas em que as pessoas ingressam – faculdades como Harvard e também como U.C. Santa Cruz, Northeastern, Penn State e Kenyon. Todas essas instituições deixam a maioria dos candidatos de fora, e todas elas perseguem uma comum, ainda que vaga, noção do que as universidades ambicionam significar. Quando as faculdades aparecem nos filmes, elas são verdejantes, pátios planejados com árvores em meio a edifícios georgianos ou góticos (ou georgiano-gótico). Quando os catálogos dessas universidades chegam pelo correio, com frequência parecem a mesma coisa. As possibilidades são: você irá encontrar um jovem byroniano lendo “Meditações cartesianas” num banco debaixo de um olmo, ou talvez seu romântico primo, um rapaz da Nova Inglaterra, com os cabelos desgrenhados, com uma mochila nas costas pendurada em um ombro. Ele está andando com uma encantadora e séria jovem, que aparentemente gosta de lenços, e, possivelmente, de Shelley. Eles estão sorrindo. Todo mundo está sorrindo. Os professores estão amigavelmente vestidos, com óculos no estilo Rick Moranis, sorriem, embora estejam trabalhando duro em uma grande mesa com um estudante ansioso, compartilhando um livro aberto e gesticulando como se estivessem pesando dois grandes frutos esféricos inteiros. As universidades são lugares especiais, acreditamos: jardins onde o povo escolhido escapa de suas vidas normais para cultivar a Vida Mental.

As universidades são lugares especiais: jardins onde o povo escolhido escapa de suas vidas normais para cultivar a Vida Mental
Porém, não é esse o tipo de educação superior que a maioria dos americanos conhece. A grande maioria das pessoas que têm educação além do secundário vão para as faculdades comunitárias e outras faculdades regionais não seletivas. A maioria dos que se aplicam são aceitos. Os professores de lá, dos quais nem todos têm doutorado ou obtêm apoio à pesquisa, podem parecer inquietos e atormentados. Os alunos também podem. Alguns frequentam a faculdade em meio período, fazendo malabarismos entre seu estudo acadêmico, a família ou trabalhos de período integral, e por isso a taxa de evasão e o tempo para conclusão é maior do que em instituições de elite. Muitas universidades são financiadas no limite, ou estão sob a fina camada de gelo dos comitês de certificação; há poucos pátios envolvidos. O curso muitas vezes prepara os alunos para profissões específicas ou habilidades necessárias. Se você quer ser treinado como um médico assistente, há um caminho para isso. Se você quer aprender a operar um espectrômetro infravermelho, existe um curso para mostrar-lhe como. Este é o braço populista do ensino superior. É responsável por cerca de oitenta por cento das faculdades nos Estados Unidos.

Também está sob tensão extrema. Em meados da década de sessenta, dois economistas, William J. Baumol e William G. Bowen diagnosticaram uma “doença de custos” em setores como educação, e a teoria continua a informar o pensamento sobre a pressão no sistema. Geralmente, quando os salários sobem dentro de uma indústria, a produtividade cresce. Mas numa sala de aula de Harvard ainda estão mais ou menos o mesmo número de alunos que no século passado, e os meios usuais de aumentar a eficiência – utilização da tecnologia, acelerar o processo, fazer mais numa única vez – não se aplicam quando o objetivo é transformar inexperientes jovens de dezoito anos de idade em homens e mulheres educados. Embora os salários dos educadores tenham aumentado (mais ou menos) na média da economia em geral ao longo dos últimos cem anos, a produtividade deles não tem. A doença de custos é usada para ajudar a explicar por que o preço da educação está em rota de ascendente, sem nivelamento a vista.

Bowen gastou boa parte dos anos setenta e oitenta como presidente de Princeton, depois ele se associou à Fundação Mellon. Em uma série de palestras na Universidade de Stanford no ano passado, ele argumentou que a educação online poderia fornecer uma cura para a doença que ele diagnosticara quase meio século atrás. Se as instituições sobrecarregadas desviassem seus alunos para a educação online, isso iria reduzir a capacidade e as despesas associadas. Os cursos se tornariam menos lotados. O melhor de tudo, os sistemas de ensino superior de elite e o populista iriam finalmente começar a interligar suas engrenagens girando no mesmo sentido: as faculdades mais bem dotadas do país poderiam dar algo de volta para seus primos pobres, racionalizando seu próprio ensino no processo. Faculdades em dificuldade poderiam usar os cursos online em seus próprios programas, como a estadual de San José, dando aos seus alunos o benefício de uma educação de primeira classe. Todo mundo ganha. Em Harvard me foi dito, repetidamente: “A maré alta eleva todos os barcos”.

O acesso à “educação de elite” pode significar mais sobre o acesso às elites do que sobre o acesso ao ensino em sala de aula
Será isso mesmo? Por um lado, se as universidades, como Harvard e Stanford, se tornarem o Starbucks e Peet’s da educação superior, oferecendo cursos de marca sofisticados no campus mais próximo, estudantes brilhantes em todos os níveis terão acesso. Mas muito poucos desses estudantes irão ter a chance de tocar essas terras distantes. E o contato, historicamente, tem sido uma parte crucial da educação da elite. Aos vinte anos, em Dartmouth, talvez você esteja sentado em um dormitório a uma da manhã compartilhando comida chinesa com dois garotos vestindo chinelos de dedo e calça jeans; 25 anos mais tarde, um desses garotos estará comandando uma empresa de tecnologia de bilhões de dólares e o outro será presidente de uma subcomissão do Senado. O acesso à “educação de elite” pode significar mais sobre o acesso às elites do que sobre o acesso ao ensino em sala de aula. Bill Clinton, um garoto de classe média baixa de Arkansas, poderia ter recebido uma educação igualmente distinta, se não tivesse ido para Georgetown, Oxford e Yale, mas ele não teria sido presidente.

Enquanto isso, as instituições menores podem ser eclipsadas ou reduzidas a anexos dos poderes instituídos. “Como um país, estamos simplesmente tentando apoiar muitas universidades que estão tentando ser instituições de pesquisa”, argumenta John Hennessy, de Stanford. “Nacionalmente, podemos não ser capazes de suportar um maior número de instituições de pesquisa no futuro.” Se as universidades de elite tiverem que carregar o fardo da pesquisa de todo o sistema, as escolas menos bem financiadas podem ser enxugadas e simplificadas. Em vez de ter que suprir uma frota de navios, você iria abastecer os mais fortes, e deixá-los puxar os outros barcos.

Um dia, em fevereiro de 2012, um cientista social chamado Gary King visitou um prédio administrativo de pedra cinzenta em Harvard Yard para fazer uma apresentação ao Conselho de Supervisores e administradores de Harvard. King, embora esteja apenas na casa dos cinquenta, é um “professor universitário” [NT: é um título específico da Universidade de Harvard, distinguindo professores destacados, um análogo seria o “professor emérito” no Brasil] – a mais alta classificação acadêmica de Harvard, permitindo-lhe trabalhar em qualquer escola do outro lado da universidade. Ele dirige o Instituto de Ciência Social Quantitativa da universidade, e falou naquele dia sobre a sua especialidade, que é a coleta e análise de dados.

“Qual é a maior ameaça para Harvard?”, começou King. Ele vestia um terno preto com uma gravata com listras diagonais, e ele estava um pouco acanhado, em uma sala enfeitada com pinturas a óleo e os bustos de grandes homens. “Creio que a maior ameaça à Harvard, de longe, é o surgimento de universidades com fins lucrativos.” A Universidade de Phoenix, explicou, gastou uma centena de milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento para o ensino. Enquanto isso, setenta por cento dos norte-americanos não recebem um diploma universitário. “Você pode dizer, ‘Oh, isso é muito ruim.’ Ou pode dizer, ‘Oh, isso é uma clientela diferente’. Mas o que isso é realmente é uma fonte de receita. É uma enorme fonte de receita para essas instituições privadas.”

King salientou três premissas cruciais para a compreensão do futuro da educação: “conexões sociais motivam”, “ensinar ensina o professor”, e “o retorno instantâneo melhora a aprendizagem”. Ele estava tentando “virar” a sua própria sala de aula. Ele transportou todo o arquivo do curso Listserv, convertendo-o em um banco de dados pesquisável, assim os alunos poderiam ver se o que eles pensavam que era apenas uma “pergunta tola” tinha sido respondida antes e por quem.

Com ferramentas de compilação como esta, a educação online transforma-se de um método de transmissão num recurso precioso de coleta de dados. Tradicionalmente, tem sido difícil de avaliar e comparar o quão bem diferentes abordagens de ensino funcionam. King explicou que isso pode mudar o online por meio da “medição e análise em grande escala”, muitas vezes conhecida como big data. Ele disse: “Nós poderíamos fazer isso em Harvard. Nós não poderíamos inovar apenas em nossa própria sala de aula – que é o que estamos fazendo –, mas podíamos avaliar cada aluno, cada sala de aula, cada escritório administrativo, cada lar, cada atividade recreativa, cada agente de segurança, tudo. Poderíamos basicamente obter as informações sobre tudo o que acontece aqui, e podemos usar isso com os alunos”.

Um imenso conjunto detalhado de dados de todas as atividades no campus de uma faculdade como Harvard, ele disse, poderia ajudar os estudantes a resolver uma série de ambiguidades na vida universitária. “Vejamos, se um estudante quer saber o que deve aprender para se tornar um M.D. [NT: Doctor of Medicine] – o que eles fariam?”, ele perguntou. “Eles conversam com o seu conselheiro. Eles falam com alguns estudantes mais velhos. Eles obtêm algumas dicas. Porém, se em vez de falar com alguns estudantes mais antigos, que tal conversar com dez mil estudantes?” Com dados suficientes de um longo período, longo o suficiente, você pode analisar as entradas e as probabilidades e dizer aos alunos, com um alto grau de precisão, exatamente que escolhas fazer para se chegar onde quer na vida. Ele continuou: “Toda vez que você vai à Amazon.com, você é o tema de um experimento aleatório. Toda vez que você faz uma busca no Google, você é o alvo de um experimento. Por que não toda vez que um aluno faz alguma coisa aqui?”.

A promessa da coleta de dados proprietários é atraente, porque, com a vida digital batendo às portas das universidades de elite, as faculdades não estão mais competindo apenas uma com a outra, a sua posição no mercado educacional está sendo desafiada pela indústria. Poucos meses antes, Faust, a presidente da Universidade de Harvard, falara com Hennessy, o presidente de Stanford, durante uma sessão de lobby no Congresso em Washington. Nesse encontro, disse-me Faust, Hennessy falou sobre um pioneiro MOOC a respeito de inteligência artificial de um de seus professores, Sebastian Thrun. O curso tinha bombado – obtendo, ao fim, mais de cento e sessenta mil participantes – e Thrun não era cego à oportunidade envolvida: mais tarde ele pegou o MOOC de Stanford e uso-o para cofundar a Udacity com fundos de capital de risco. Quando Faust voltou para Boston e se reuniu com a subcomissão de reitores que tinha previamente montado para pensar o futuro da educação, ela disse, foi com um novo senso de urgência sobre a necessidade de fazer um trabalho de educação online em Harvard. King foi convidado para falar na reunião de fevereiro, os supervisores pediram esclarecimentos adicionais que continuaram por e-mail e por telefone durante as semanas seguintes. Menos de três meses depois, foi anunciado que Harvard e o MIT lançariam sua organização MOOC sem fins lucrativos – formando a start-up edX.

Em seu escritório, naquela tarde, com vista para um pequeno pátio e a parte de trás da Capela de Swedenborg, King disse-me que ele não achava que os MOOCs estivessem prontos para substituir a sala de aula. “No momento, há uma diferença muito grande entre uma experiência online e uma experiência pessoal”, disse.

O quanto se perde é um tema que tem sido debatido ultimamente. Em Harvard, como em todo lugar, os projetistas de MOOC reconhecem que as humanidades possuem dificuldades especiais. Quando David J. Malan, que ensina o popular e exigente curso de introdução à programação “Ciência da Computação 50”, transformou o curso num MOCC, a avaliação dos estudantes não era particularmente difícil: as tarefas eram programas e os sucessos podiam ser classificados automaticamente. Não é assim em cursos como o de Nagy, que tradicionalmente envolvem a escrita de ensaios e discussão. Nagy e Michael Sandel estão utilizando fóruns de discussão para simular o debate de sala de aula, embora os resultados não sejam sempre animadores. “Você tem um que está – eles falam sobre Cristo”, disse-me logo após o início das discussões Kevin McGrath, um dos coordenados do CB22x. “Ou sobre orgulho. Eles não estavam realmente engajados com o que acontecia.”

“As humanidades sempre foram baratas e as ciências caras”, explica Ian M. Miller, um estudante de pós-graduação que conduz a produção técnica de um MOOC de história planejado para ir ao ar no outono. “Você dá aos professores de humanas um cubículo para eles colocarem seus livros e isso é, basicamente, o que eles precisam. Os cientistas precisam de laboratórios, equipamentos e computadores. Para os MOOCs eu não diria que é o oposto, mas os cursos de ciências são relativamente mais fáceis de planejar e implementar. De uma perspectiva computacional, os tipos que questões que pedimos nas humanidades possuem ordens de magnitude mais complexas.” Quando três grandes acadêmicos ensinam um poema de três modos, isso não é ineficiência. É a premissa na qual toda a investigação em humanas está baseada.

Ao falar com King naquela tarde, mencionei que era especialmente difícil adaptar cursos em humanas para MOOCs. King franziu a testa.

“Por quê?”, ele perguntou. “Por que deveria ser assim?”

Avaliar o desempenho dos estudantes numa escala massiva pode ser mais difícil quando se está ensinando material qualitativo, eu respondi.

King discordou: “Eu acho que a avaliação é provavelmente mais difícil nesses campos, no início – não porque é mais difícil de avaliar, mas porque é mais difícil de definir o que você deseja avaliar”. Big data pode ajudar a resolver isso. O verdadeiro potencial da MOOCs, ele continuou, é a inserção aleatória de dados de uma única “sala de aula” virtual de um modo que não é possível em um ambiente tradicional. “Seria possível avaliar aleatoriamente diferentes métodos de ensino, diferentes abordagens e diferentes maneiras de ver o quadro e todos os tipos de coisas”, ele disse. “E uma vez que os números são enormes e o potencial para executar muitos experimentos é grande, o que você poderia fazer é praticamente resolver, pelo menos em um ambiente online, este formidável problema da pesquisa educacional.”

Por enquanto, os dados sobre a eficácia dos MOOCs são difusos e escassos
Por enquanto, os dados sobre a eficácia dos MOOCs são difusos e escassos. O caso fundamental para eles é um estudo randomizado que Bowen ajudou a planejar, através, da organização Ithaka, um braço da Fundação Mellon. Ele não mostrou nenhuma diferença significativa nos resultados educacionais entre a aprendizagem online e a aprendizagem em sala de aula tradicional. O MOOC em questão era um curso de estatística, no entanto, era “híbrido”: os alunos estiveram semanalmente numa sala de aula para sessões de perguntas e respostas. Quando os MOOCs são uma experiência somente online, as taxas de evasão são tipicamente de mais de noventa por cento.

“Eu creio que nós estamos numa fase muito experimental”, disse-me Kathleen McCartney, psicóloga do desenvolvimento e diretora da Faculdade de Educação da Universidade de Harvard, uma tarde em seu escritório na beira do antigo Jardim Radcliffe. Neste verão, ela irá deixar Harvard para tornar-se presidente da Smith. Em maio de 2012, quando o edX foi anunciado, Alan Garber, o reitor, solicitou sua participação em seu conselho. “É realmente uma questão de valor agregado”, disse ela. “Qual é o valor adicional que uma faculdade ou uma universidade, escolas profissionais dentro da universidade podem oferecer?” Mais tarde, ela se levantou para olhar um documento que a tinha impressionado. “Esse cara é realmente um bom pensador”, ela disse, entregando-me a cópia de um relatório de Michael Barber, um conselheiro para a publicação e educação do conglomerado Pearson, com dois coautores. O documento, intitulado “Uma avalanche está chegando", foi lançado em março deste ano pelo Instituto de Pesquisa de Politica Pública, um think tank britânico. A avalanche em questão, de acordo com o relatório, é a reviravolta que a cultura digital irá trazer às universidades. Seus autores escrevem: “A única certeza para qualquer um no caminho de uma avalanche é que ficar parado não é uma opção”. Por exemplo, comenta que a União Soviética de Brejnev estava no caminho de uma avalanche e não se preparou – veja o que aconteceu. Assim como, o Lehman Brothers. O prefácio é do economista e ex-presidente de Harvard, Larry Summers.

Escrito num tom solene e derivando fortemente da literatura de estratégia de negócios tecnológicos “Uma avalanche está vindo” cita Richard Florida e Clayton Christensen, propondo que as faculdades tirem proveito de uma “divisão” em suas responsabilidades educativas, a fim de permanecerem competitivas – uma ideia popular entre os adeptos do MOOC. “Alguns dos principais empresários do nosso tempo, incluindo Mark Zuckerberg e Steve Jobs, abandonaram a faculdade para ir para o Vale do Silício”, diz o relatório. “Movidos pela meta de prosperidade da cidade, os centros tecnológicos poderão ser as universidades do futuro.” A ideia é cada vez mais popular entre determinado setor da comunidade do ensino superior. (O Projeto Minerva, uma Universidade online de Artes Liberais, que está sendo desenvolvida com um investimento inicial de vinte e cinco milhões de dólares pela Benchmark Capital, fará com que seus alunos viajem entre até sete campi de todo o mundo, fazendo trabalho online em cada uma; Larry Summers preside seu conselho.) McCartney disse: “Eu acho que é um bom paper. Eu o peguei três vezes ontem”.

Numa tarde ensolarada de março, o presidente da edX, Anant Agarwal, um professor de engenharia elétrica e ciência da computação do MIT, de cinquenta e três anos, mostrou-me os arredores dos novos escritórios da companhia. A edX está a dois quarteirões dos escritórios do Google em Boston, perto do MIT: uma área de Cambridge que, em contraste com as calçadas de tijolos ondulantes e ruas em forma de macarrão em torno de Harvard, parece mais com uma transversal elegante e angular mais eficiente para carros. “Bem-vindo à nossa start-up”, disse Agarwal quando nós apertamos as mãos. “É muito start-up-y.” Ele gesticulou indicando a trajeto do andar aberto do escritório, cheio de samambaias e móveis em madeira clara elegante. Televisores de tela plana estavam pendurados pelo teto. Funcionários caminhavam entre as estações de trabalho. “Como você pode ver, é assim que uma start-up parece”, ele comentou mais uma vez.

Agarwal já iniciara várias start-ups, mais recentemente uma que fazia processadores multitarefa. Ele disse-me que bebe café, sem parar, todo o dia. Não é difícil de acreditar, ele anda como se estivesse acelerado, e quando está sentado fica inquieto. Em dezembro de 2011, ele lançou algo chamado MITx, sob a égide da universidade, ostensivamente para colocar online seu curso semestral de primavera de circuitos eletrônicos. “Quando começamos, um número ótimo dos alunos que eu estava procurando era cerca de dez vezes o número de alunos de uma classe do MIT”, disse ele – por volta de mil e quinhentos. “Nas primeiras horas de postagem do curso, tivemos dez mil estudantes inscritos, de todo o mundo.” O curso finalmente matriculou cento e cinquenta e cinco mil alunos.

Agarwal percebeu que ele estava envolvido em algo grande. Quando o MIT e Harvard se aproximaram dele para conduzir um MOOC em parceria, ele elaborou um orçamento de sessenta milhões de dólares. No ritmo atual, ele estima que o investimento irá cobrir as necessidades da edX por “cerca de um par de anos”. Ele diz: “Com o negócio estabelecido, vamos ver como vai ser, e o que realmente faremos, o que não faremos, e encontrar o seu caminho conforme avançamos, como você pode imaginar em qualquer empresa start-up – esta é uma empresa start-up”.

Como o edX e os MOOCs irão fazer dinheiro permanece um tanto nebuloso. Uma ideia para gerar receita é o licenciamento
Como o edX irá fazer dinheiro permanece um tanto nebuloso. Os cursos no programa HarvardX continuam gratuitos. Isso irá mudar nesse outono, quando Harvard irá começar a conduzir o que chama de “experimentos de receita”. Os MOOCs têm um alto custo – Rob Lue, chefe da HarvardX, disse-me que alguns cursos exigem “na casa das centenas de milhares” de dólares do planejamento à execução – e até agora não há retornos significativos. A universidade entende seu investimento inicial de trinta milhões de dólares como um “capital de risco”, e espera ter seu dinheiro de volta.

Uma ideia para gerar receita é o licenciamento: quando o sistema da Universidade Estadual da Califórnia, por exemplo, usar cursos da HarvardX, ele pagaria uma taxa para Harvard, por meio da edX. Outra ideia, voltada para o usuário doméstico individual, é uma taxa básica por curso: você pagaria para se matricular em um curso que você gostou. Há um mercado existente para cursos online à base de mensalidades da Universidade de Phoenix, e, para competir nesse campo, a edX terá que escolher os seus preços por curso com cuidado. Um modelo frequentemente mencionado é o iTunes.

Para os professores envolvidos, também, os detalhes financeiros permanecem vagos. Eles deveriam receber pagamento extra por conduzir classes online? (Michael D. Smith, reitor da faculdade de Arte e Ciências, disse-me que Harvard planeja pagar os professores de MOOCs quando a receita começar a fluir.) Existem questões mal resolvidas com respeito à propriedade intelectual: se um professor lança um MOOC por Harvard (uma das proprietárias da edX) e depois assume um posto em Princeton (Coursera), quem ira manter o curso online? Os professores do corpo não estável, que podem encontrar trabalho em outros locais, serão desencorajados de produzirem MOOCs? Enquanto as instituições não seletivas montarem equipes e pagarem taxas de licenciamento para as poderosas elites, os MOOCs irão oferecer oportunidades substanciais para as estrelas acadêmicas, que podem aspirar a ter seu trabalho sendo visto por um vasto público internacional. Quando Nagy decidiu transformar seu popular curso em um MOOC, ele estava pensando não só em seu alcance global – ele já está trabalhando para garantir avanços do CB22x na Grécia, Índia, China e em outros lugares –, mas na longa meia-vida que o curso teria uma vez que estivesse circulando na web.

Continua



*Original: Has the future of college moved online? by Nathan Heller - THE NEW YORKER (May 20, 2013)
Imagem: OpenSource Way (Libby Levi)
Tradução: Richard Romancini e Patrícia Horta Alves
Trabalho sem fins comerciais
Nonprofit work

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