terça-feira, 30 de setembro de 2014

Nas telas: o charme dos modelos alternativos da “escola ideal”



Richard Romancini

Retomo o tema do cinema, ou melhor, do audiovisual (na atualidade, muitos filmes são feitos no suporte do vídeo e contam com espaços de veiculação diferentes do cinema) e da escola. Agora, o foco é quanto à abordagem dessa instituição pelos realizadores, particularmente no documentário. No início, pretendia discutir o filme argentino “A Educação Proibida” (2012), no entanto, a recente disponibilização online do documentário brasileiro “Quando Sinto que já Sei” (acima) torna esse trabalho um objeto privilegiado. Além de abordar o contexto local, ele possui algumas similaridades com a primeira obra. É válido notá-las.

Ambos os filmes utilizam basicamente depoimentos de educadores, gestores e professores. O enfoque dos trabalhos é sobre o que podemos chamar de “modelos alternativos” de educação. Mais do que a ideia da “desescolarização”, defendem que as relações escolares sejam mais democráticas e os estudos contemplem as motivações e os interesses dos alunos. Grosso modo, a crítica básica é que a “educação tradicional” preocupa-se demais com conteúdos, cujo significado é opaco para os estudantes, tendo insuficiente preocupação em construir situações que favoreçam a autonomia e a criatividade das crianças e jovens.

No caso de “A Educação Proibida”, essa contraposição entre o “alternativo” e o “tradicional” é realçada pelo procedimento um tanto duvidoso de encenação de situações do cotidiano escolar, em cenas inseridas em alguns momentos do filme. O problema dessa estratégia é que ela possui tons muito carregados de caricatura. Em verdade, esse tipo de simplificação caracteriza o próprio argumento inicial de que a educação escolar nasce e desenvolve-se, sobretudo, como um processo de produção de trabalhadores e cidadãos, bem ajustados, em determinado espaço nacional. A educação escolar, assunto complexo, tem historicamente esse elemento, mas também outras dimensões, como as possibilidades de acesso aos conhecimentos que permitem o esclarecimento individual e a libertação coletiva. Por isso, o direito à educação foi sempre uma bandeira dos trabalhadores.

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