O primeiro documentário, Sete vidas eu tivesse... (2006), com direção e roteiro de José Maurício de Oliveira, que foi aluno da turma de 1963 do Ginásio Estadual Vocacional Osvaldo Aranha, dá informações sobre a proposta e suas pecualiaridades, discutindo questões que provocaram sua descontinuidade, como, principalmente, o contexto repressivo do regime militar. O filme é pontuado por trechos de uma carta de Maria Nilde Mascelini, falando sobre a experiência dos vocacionais, sendo que o título é um trecho da mesma.
O segundo filme, dirigido por outro ex-aluno de escola vocacional, o cineasta Toni Venturi, chama-se Vocacional - O Choque de uma Escola Libertária com a Ditadura Militar (2011) e, com um tom bastante emotivo, rememora aspectos desse modelo educativo.
Ambos os filmes são interessantes e agradáveis, com certo número de informações sobre o que foram as escolas vocacionais. No entanto, é possível dizer que há um excessivo relacionamento ou proximidade afetiva com o tema, por parte dos autores, do que resulta certa ausência de problematizações e discussões mais reflexivas. Como nota Leandro Calbente Câmara, numa crítica do filme de Venturi:
O problema é que não existe uma preocupação em se distanciar desse nexo afetivo. Na realidade, essas memórias afetivas são utilizadas para construir uma interpretação da realidade educacional. As escolas vocacionais são retratadas a partir da ótica da excepcionalidade. Elas ousaram fazer o que nenhuma outra escola pretendeu, ousaram pensar. Essa singularidade, inscrita em termos propositalmente abstratos e quase metafísicos (pensamento, crítica, saber, etc.), perpassa o conjunto das falas, as quais citam os mais diferentes exemplos práticos: as aulas de artes que estimulavam a criatividade, o hábito de desenvolvimento dos ofícios mecânicos, a utilização da matemática aplicada a situações cotidianas, os trabalhos de campo, o sistema de avaliação baseado numa multiplicidade de atividades, a discussão coletiva dos temas de estudo, entre muitas outras situações. Nessa coleção de exemplos, o espectador acompanha o desvelar de uma instituição fundada sobre o binômio autonomia/liberdade. A escola surge como o local que possibilita o desenvolvimento da autonomia de todos os alunos, cada um a sua maneira, cada um segundo si próprio. E é disso que resulta sua positividade. Apesar da insistência na excepcionalidade, esse binômio está inscrito no coração de todo projeto educacional moderno. [...] Ao contrário da ênfase colocada no filme, esses projetos de escolas libertárias, democráticas e críticas foram bastante comuns e freqüentes. Desde o início do século passado, não faltaram pessoas que enxergaram a escola tradicional como um poço de erros e práticas inadequadas. Para combater os efeitos perniciosos dessa escola, sempre vistas como responsáveis pelas mazelas sociais mais amplas, muitos pedagogos e professores elaboraram projetos reformadores que pretendiam corrigir os erros e criar a escola perfeita, ou pelo menos mais eficiente. O que chama atenção nessas propostas é que todas sempre se auto-representaram como escolas excepcionais, que torciam radicalmente a lógica da escola tradicional. [...]” |
De qualquer modo, ainda que o discurso da memória predomine sobre o da história nesses dois documentários, eles mostram aspectos interessantes de um momento da educação paulista e brasileira, hoje não tão conhecido.
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