segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ideias - Entrevista: tradução
Sonia Livingstone, sobre as crianças e a internet


O blog do podcast Social Science Bites publicou no início deste mês uma entrevista com a pesquisadora inglesa Sonia Livingstone, na qual ela fala sobre a relação entre as crianças e a internet, a partir de suas pesquisas. Destaca ainda as peculiaridades deste tipo de investigação. Abaixo, há uma tradução dessa entrevista.
*
David Edmonds - Nunca trabalhar com crianças ou com animais é um bom conselho para os diretores de cinema, o que me diz sobre os cientistas sociais? Sonia Livingstone é a chefe do departamento de mídia e comunicações, na London School of Economics, e supervisionou um vasto estudo sobre o risco que a internet representa para as crianças.

Nigel Warburton - Sonia Livingstone, bem-vinda ao Social Science Bites.

Sonia Livingstone - Obrigado por me convidar para falar hoje.

Nigel Warburton - Nós vamos falar sobre as crianças e a internet. Agora, obviamente, é um tema interessante, mas por que uma cientista social como você deve indagar sobre a relação entre crianças e a internet?

Sonia Livingstone - Bem, existem várias razões pelas quais tenho interesse no assunto, mas, provavelmente, a principal delas é que parece que, nos últimos dez anos, todo mundo tem falado sobre a forma como a internet pode estar mudando a infância, mudando as perspectivas educacionais das crianças, mudando a maneira como eles se relacionam entre si e, possivelmente, trazendo todos os tipos de riscos. Assim, pareceu ser um tópico muito vívido sobre o qual as pessoas desejariam entender melhor.

Nigel Warburton - E como você o aborda?

Sonia Livingstone - Uma maneira de acesso a este tema específico é escutar os tipos de discursos populares, por vezes os pânicos morais, os tipo de manchetes da mídia gritando a respeito de todas as coisas que poderiam ser ruins sobre a internet, e começar a questionar o que uma análise cuidadosa da ciência social mostraria, se nós fôssemos entrevistar crianças, entrevistar os pais.

Nigel Warburton - Acho que devemos começar dizendo o que conta como uma criança neste contexto?

Sonia Livingstone - Essa é realmente uma pergunta interessante, não é óbvio, na verdade o que ‘uma criança’ ou ‘internet’ o que significa que poderíamos dizer que ambas estão mudando. É importante para mim a pensar sobre a história da infância e pensar sobre o modo como nossas concepções sobre a criança têm mudado. Para muitas pessoas, criança significa uma pessoa muito pequena, abaixo de, digamos, dez. Porém, do ponto de vista de muitas das políticas que existem tanto para apoiar quanto para proteger as crianças, muitos se referem à Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança como o quadro realmente fundamental. E ela define como criança qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos, reconhecendo que elas têm diferentes necessidades e direitos um tanto diferenciados, em função das suas capacidades. Assim, há sempre uma preocupação com a questão da idade, relativa ao contexto e aos tipos de necessidades e capacidades que elas têm em diferentes idades.

Nigel Warburton - E quão jovens as crianças começam a usar a internet?

Sonia Livingstone - Quando comecei minha pesquisa as pessoas realmente falavam sobre crianças da escola secundária e isso tem acontecido com crianças cada vez mais jovens. Agora, as crianças estão usando a internet assim que eles podem se sentar e ficar no colo de um pai. Em minha pesquisa, porém, tenho tendência a me concentrar em crianças a partir de cerca de nove anos, que não é exatamente quando elas começam a utilizar a internet, mas quando eu posso começar a pesquisá-los e falar com eles de uma forma mais interessante sobre o que eles fazem com ela.

Nigel Warburton - Como você faz a coleta de dados neste contexto?

Sonia Livingstone - Bem, a maneira clássica da ciência social é começar com o qualitativo, movendo em direção ao trabalho quantitativo, e, em seguida, algum tipo de retorno ao qualitativo. Porque você não conhece as condições, você não sabe necessariamente o que é interessante ou o que é importante perguntar, e é importante para muitos que trabalham com as crianças ter uma perspectiva centrada nelas, para que você obtenha as narrativas das próprias crianças. Especialmente em um domínio onde há tantos dispostos a falar pelas crianças e nos dizer o que elas pensam, o que as preocupam e sobre o que elas deveriam se preocupar. Então, tentei começar com o trabalho qualitativo, mas nos últimos anos eu venho fazendo um levantamento muito grande com crianças e um de seus pais, em toda a Europa. Desse modo, fiz uma investigação com 25.000 crianças e pais, que, de fato, era uma espécie de grande empreitada em termos de organização. E agora eu estou voltando para a fase qualitativa, o que quer dizer que o estudo levanta todos os tipos de quebra-cabeças. Sobre alguns achados, algumas análises, posso ter certeza, mas há alguns quebra-cabeças que me fazem querer voltar e falar com as crianças de novo e dizer ‘bem o que você acha que está acontecendo aqui?’ Ou ‘o que é importante nisso?’ Tenho uma enorme base de dados, a respeito de milhares de crianças em vinte e cinco países, com idades entre nove e dezesseis anos. E o que queríamos fazer era entrevistar o filho e um de seus pais, o pai que estivesse mais envolvido com o uso da internet, para que pudéssemos justamente olhar a relação entre o que a criança diz que aconteceu com eles, o que o pai pensa que acontece com eles, o que os pais dizem que eles estão fazendo para tentar manter seu filho motivado, capaz ou seguro e o que a criança diz. Então, queríamos obter esse emparelhamento.

Nigel Warburton - Isso quer dizer que você está apenas olhando para o que eles dizem, ou o que eles realmente fazem?

Sonia Livingstone - Nós estamos apenas olhando para o que eles dizem. Essa é uma das restrições difíceis na pesquisa de levantamento (survey), mesmo enviando um pesquisador em todas as casas para entrevistar o filho e o pai, isso não significa que eu posso sentar e olhar o tipo de coisa que está sendo feita exatamente. No trabalho qualitativo posso, e uma das coisas que eu faço no meu trabalho qualitativo é sentar com uma criança e dizer: ‘mostre-me seu Facebook’ ou ‘por que você enviou essas fotos’ ou ‘vamos dar uma olhada em como a internet está configurado para determinados fins’. E eu posso ver não apenas o que eles querem me falar, mas também o que eles não querem me dizer. Porém o survey deve ter uma metodologia padronizada, deve ser algo que eu pudesse aplicar a partir de um conjunto de instruções para os pesquisadores que entraram em 25.000 casas em 25 idiomas. Acredito que há um conjunto de técnicas a partir do qual você tenta fazer o seu melhor para se certificar de que o que eles dizem não é francamente distante da verdade. Tentamos perguntar às crianças o que aconteceu com elas no mês passado, ou no ano passado. Mas não o que aconteceu com eles comumente, pois as memórias das crianças não são muito boas. Tentamos pedir às crianças que contem sobre as coisas que aconteceram ou coisas que fizeram, ao invés de seus julgamentos, suas percepções ou suas atitudes. Por isso, nos mantemos, pode-se dizer, tão factuais quanto possível.

Nigel Warburton - Eu imagino que os resultados não foram muito diferentes em países e grupos etários diversos, numa pesquisas como essa. Foi isso que você descobriu?

Sonia Livingstone - Queríamos manter o foco na Europa, em parte porque a pesquisa foi financiada pela Comissão Europeia, em parte porque é realmente muito difícil comparar países onde as culturas são completamente diferentes e as ideias de infância, do papel dos pais e também da internet são todas realmente muito diversificadas. Assim, a ideia era comparar os países onde as ideias eram bastante semelhantes, mas há alguns tipos de gradações de diferença, particularmente se você pensa no nível de, vamos dizer, Noruega e Suécia, onde a internet tem sido uma espécie de bem incorporado há um bom tempo, até a Espanha e Portugal, de um lado, ou a Bulgária, República Tcheca, Polônia, onde a Internet é muito mais recente. E há, claro, diferenças europeias em religião, na cultura, na abordagem da educação e assim por diante. Então, sim, há muitas diferenças, mas dentro de um quadro que também nos permite perceber algumas generalidades sobre o que as crianças gostam de fazer. Por isso, mesmo que haja essas diferenças ainda é possível dizer que as crianças estão tomando a rede social em toda a Europa, de fato, rapidamente, os pais estão geralmente preocupados com o que seus filhos estão fazendo e, apesar de suas contínuas preocupações, eles preocupam-se menos quando seus filhos rumam à adolescência, porque eles querem dar independência aos filhos, há surpreendentemente poucas diferenças de gênero, além do fato de que os meninos jogam mais do que as meninas. Então, também se pode dizer que sabemos que, em termos de idade, sexo, paternidade, interesses das crianças, há grandes semelhanças em toda a Europa.

Nigel Warburton - Muitas pessoas que falam sobre o uso que as crianças fazem da internet estão preocupadas, eles acreditam que há algo extremamente arriscado em deixar seus filhos soltos em um mundo que elas não entendem completamente. As crianças não compreendem isso, os pais com frequência não entendem os riscos, mas eles sentem que há algo lá fora que é muito prejudicial potencialmente. Isso é verdade?

Sonia Livingstone - Bem, sim e não. Existem todos os tipos de riscos lá fora e tudo o que existe no mundo off-line está on-line, de forma mais intensa e mais acessível, muitas vezes. Assim, algumas das coisas que nos preocupam quanto ao on-line são mais difíceis de encontrar off-line, como certos tipos de pornografia extrema ou certos tipos de imagens muito violentas ou conteúdo muito racista. Eles são muito mais fáceis de encontrar se você está procurando por essas coisas on-line do que off-line. Assim, no projeto, passamos muito tempo pensando sobre que tipo de riscos as pessoas estão preocupadas e em seguida, tentamos obter algum tipo de dados adequados das ciências sociais sobre quão comuns esses riscos realmente são. E nós também passamos bastante tempo pensando sobre as relações entre os riscos e danos. Visto que as crianças podem ser expostas, por vezes, à pornografia, elas podem entrar inadvertidamente em sites pró-anorexia, elas podem receber mensagens hostis de bullying on-line e elas podem ficar ou não perturbadas por isso. Podem ser ou não prejudicadas. Os resultados que temos mostram, em geral, que a maioria das crianças está usando a internet com uma exposição relativamente baixa ao risco e é razoável, então, incentivá-las a encontrar as coisas boas na internet, e para se comunicar, se divertir, aprender e assim por diante. Nós estamos tentando identificar quais são as crianças que têm corrido um pouco mais de riscos e se existem fatores em suas vidas cotidianas que as tornem particularmente vulneráveis. E então estamos tentando também compreender quais são as ocasiões em que a exposição a todos os tipos de riscos que as pessoas se preocupam atualmente levam uma criança a sofrer dano. E novamente temos de volta o problema do autorrelato, já que não posso ir e descobrir se uma criança realmente é ameaçada, tudo o que posso é perguntar: ‘você está contrariada?’, ‘Você sentiu ameaçada?’.

Nigel Warburton - Você mencionou a exposição à pornografia, ao racismo, ao cyber-bullying, qual é o limite de risco para uma criança on-line?

Sonia Livingstone - Entre os riscos mais comuns estão a exposição à pornografia e o cyberbullying, embora estes permaneçam num nível relativamente baixo. O outro risco que as pessoas realmente se preocupam é o risco de que estranhos, pedófilos, ‘esquisitos’ (como as crianças os chamam) irão localizar uma criança, especialmente uma criança vulnerável, e irão explorar e abusar delas. Nós, por isso, passamos um bom tempo pensando, em primeiro lugar, como a pedir às crianças para falarem sobre isso, se eles não estão cientes desses riscos, porque há questões éticas na pesquisa que estamos fazendo. E então, como decidir o que é um risco, porque muitas crianças vão para o mundo on-line justamente para conhecer novas pessoas e fazer novos amigos. E um ‘novo amigo’, antes de você conhecê-lo, é um estranho. Assim, separar os estranhos que vão tornar-se bons amigos e aqueles que vão causar dano é um julgamento muito sutil que estamos pedindo a uma criança para fazer. Muitas crianças fazem os tipos de coisas que lhes permitem fazer novos amigos, como postar suas informações pessoais, e adicionar contatos à sua rede social ou usar mensagens instantâneas com quem elas não conhecem de outra forma, eles fornecem todos os tipos de informações sobre si mesmas. Mas, principalmente, elas não se encontram com estranhos e elas certamente não se encontram com estranhos esquisitos no mundo lá fora para abusar sexualmente delas.

Nigel Warburton – ‘Principalmente’ pode não ser suficiente para acalmar as preocupações dos pais a esse respeito, já que o dano potencial para a criança é tão grave que você não irá querer correr qualquer risco com a criança e realmente, por isso, proibi-las de usar a internet.

Sonia Livingstone - Algumas coisas podem ser muito comuns, mas bastante leves. E algumas coisas podem ser muito raras, mas muito graves quando acontecem, como um pedófilo aliciando uma criança, se você preferir, a mais rara e também a mais grave. As crianças dizerem coisas desagradáveis umas às outras no Facebook é muito comum, e bastante leve. Ainda assim, alguns dos riscos comuns leves podem ser muito dolorosos para a uma criança, por isso temos que estar alertas, sem entrar em pânico, sobre a maioria. Lidar com alguns dos riscos severos e graves pode requerer outros tipos de solução, mais do que impedir as crianças de utilizarem a internet. Existem vários tipos de estratégias da indústria para a identificação de quem são as pessoas on-line, ou qual a abordagem de um pedófilo a uma criança que possa estar online. - Algumas dessas estratégias são bastante sofisticadas tecnicamente. E o que um cientista social faz? Acho que o que fazemos é tentar dizer que estes são os riscos que julgamos em termos de sua incidência e de sua gravidade, tornando isso disponível e depois é a sociedade que faz a avaliação sobre qual ação tomar quanto ao tipo de risco .

Nigel Warburton - Você menciona que pode ser capaz de prever quem possa estar em risco em certos contextos, houve alguma coisa específica que lhe permitiu identificar os riscos específicos e as crianças em particular?

Sonia Livingstone - Bem, uma das coisas que eu diria é que há uma história diferente a ser contada a partir dos dados para os diferentes tipos de riscos que estamos procurando. O cálculo que faria sobre quem está em risco de ser intimidado é diferente daquela de conhecer estranhos e novamente diferente de se expor à pornografia. Porém, uma das grandes tendências que podemos ver, o que não é uma surpresa, mas é importante dizer, é que as crianças que têm vários tipos de dificuldades psicológicas, sociais off-line – relacionamento fracos com os amigos, falta de apoio dos pais, solitários e por isso procurando por outras pessoas on-line ou intimidade – esses são os tipos de fatores que levam as crianças a ter vulnerabilidade off-line e estendê-la on-line e estarem em maior risco. E aqueles que já estão lidando com crianças que estão vulneráveis off-line, sejam eles médicos, clínicos, assistentes sociais ou professores também devem olhar para como esse tipo de vulnerabilidade pode ser estendido on-line. E muitas vezes eles não o fazem, pois os problemas imediatos são tão grandes que eles não pensam ‘e o que é que a criança está fazendo no Facebook?’ ou ‘quem eles conhecem por meio do seu telefone?’

Nigel Warburton - Se você estivesse olhando para um tópico, digamos hábitos de leitura infantil, isso é um objeto que muda de modo relativamente lento, mas a internet altera-se quase que diariamente. Não há um risco de fazer a pesquisa e, então, isso solidificar-se numa ortodoxia sobre a relação entre crianças e a internet e, depois, a internet mudar e todos os resultados serão questionados de novo no próximo mês?

Sonia Livingstone - Bem que gostaria que meus resultados se tornassem ortodoxia, lamentavelmente, o caso é exatamente o oposto. Você faz uma pesquisa de um ano e na hora que publica as pessoas dizem 'bem já que está tudo desatualizado por que eu deveria prestar alguma atenção?’ O desafio para um cientista social é tentar identificar o que de fato está mudando muito rápido e o que não muda tão aceleradamente. Então, as ansiedades dos pais ou estratégias dos pais para gerenciar o uso da internet pelas crianças ou mesmo o que as crianças querem fazer, você sabe, fundamentalmente elas querem ser capazes de conversar com seus amigos, fazer upload de algumas fotografias e ouvir a música de que gostam – e que não tem mudado dramaticamente nos últimos cinco anos ou talvez até mesmo nos últimos vinte.

Nigel Warburton - Você mencionou a importância da pesquisa em ciências sociais para a gestão governamental, agora me parece que, na esfera pública, a maioria das discussões sobre as crianças e a internet é conduzida num nível anedótico. Como chegar a uma posição em que os governos levem a sério a pesquisa social científica, de modo a que ela seja uma contribuição para o debate sobre o bem público?

Sonia Livingstone - Essa é uma pergunta interessante, existem dois tipos de narrativas que me preocupam, uma é a da criança em que algo ruim aconteceu, que se torna a manchete na imprensa popular e o outro é o filho ou filha privilegiado do político ou legislador para o qual estou falando. O que eu tento dizer? Gostaria de continuar a falar sobre a importância de uma amostra representativa de grandes dimensões onde perguntas fossem feitas de forma neutra a todas as crianças do mesmo modo, para que se pudesse começar a dizer que estes são os padrões, estas são as diferenças, e é uma base sólida sobre a qual, por vezes, os resultados contradizem a percepção popular. Então, sim, algo de ruim pode acontecer a uma criança, mas é a uma minoria muito pequena de crianças ou, sim, o seu filho pode ser terrivelmente inteligente na internet, mas outras crianças ainda estão lutando com as ferramentas de busca ou com configurações de privacidade.

Nigel Warburton - Parece-me isso se encaixa com uma questão mais ampla sobre o respeito pela ciência e pelos dados, como se existissem questões realmente importantes em nossa sociedade para os políticos levarem a sério a pesquisa científica. Quais as chances de que as descobertas das ciências sociais tenham um impacto na política?

Sonia Livingstone - Eu acho que quando nós sentamos na universidade e olhamos para o tipo de multi-interessados da comunidade política, existem todos os tipos de possíveis grupos para se falar. E os políticos podem não ter a porta mais aberta. No âmbito da utilização da internet pelas crianças, há muitos gestores de políticas e profissionais que estão realmente muito interessados em entender melhor o que as crianças estão fazendo com a internet. Grupos de pais, aqueles que planejam políticas de e-segurança nas escolas, instituições de caridade de crianças querem entender que tipos de linhas suporte ou que tipos de serviços devem oferecer para as crianças que entram em dificuldades on-line. Portanto, há alguns ouvidos atentos, é claro que todos eles têm sua própria agenda e não necessariamente concordam uns com os outros, por isso é um terreno difícil de navegar.

Nigel Warburton - Se eu estivesse agora bancando o advogado do diabo, eu diria que você tem uma agenda: acalmar as pessoas - há este pânico moral, mas, na verdade, a pesquisa mostra que não existem, realmente, perigos tão graves associados ao uso da internet pelas crianças, e há muitos efeitos benéficos nas conexões sociais que elas fazem por meio do Facebook e outros. Agora, algumas pessoas afirmariam que a ciência social deve possuir certo grau de neutralidade.

Sonia Livingstone - Você está falando comigo após eu ter despendido um bom número de anos fazendo pesquisa sobre as crianças. Quando eu comecei realmente não tinha ideia do que ia dizer e era perfeitamente possível que tivesse caminhado em grupos de crianças na escola ou entrado em casas de família e crianças poderiam dizer 'Oh, meu Deus, há todas essas coisas horríveis acontecendo comigo, eu não sei o que fazer, estou realmente desconcertado’ e isso simplesmente não aconteceu! Assim, meu desejo de refrear os pânicos morais vem após uma enorme quantidade de entrevistas. A internet não é exatamente o ameaçador oeste selvagem que às vezes parece. E as crianças têm muitas coisas positivas a dizer sobre isso, que eu estou tentando mostrar na pesquisa. Mas, às vezes, em algumas circunstâncias, há algumas causas reais de preocupação e a questão é como obter recursos para esses momentos sem que as pessoas fiquem dizendo: ‘Vamos parar de deixar as crianças on-line’.

Nigel Warburton - O tipo de pesquisa que você está fazendo é uma combinação de pesquisa qualitativa e quantitativa; presumivelmente isso requer diferentes tipos de habilidades. Que espécie de qualidades você acha que um cientista social que trabalha nesta área precisa?

Sonia Livingstone - Tornou-se o tipo de percepção generalizada, especialmente em relação às crianças, que nós precisamos triangular diferentes métodos de investigação para compreender suas perspectivas e sua experiência. Você precisa de um tipo de abordagem empática com as crianças de modo que você pode deixá-las falar livremente, em seus próprios termos. E ao mesmo tempo você não deseja fazer grandes generalizações de pesquisa e recomendações para políticas, certamente, a partir de um pequeno número de crianças, por isso você também precisa das técnicas de pesquisa e métodos de análise estatísticos que exigem lidar com um número muito maior de crianças e fazer generalizações para a população. Então, creio que tento fazer com que essas diferentes habilidades trabalhem juntas e, às vezes, trabalhar com pessoas que são especializadas em diferentes campos, assim, por vezes, trabalho com pessoas que são muito boas em entrevistar crianças, mas que não têm nenhuma ideia sobre surveys. E certamente trabalho com algumas pessoas que sabem muito sobre análise de dados e não necessariamente fariam o trabalho empático com as crianças. Mas eu gosto de fazer um bom número de entrevistas eu mesma e gosto de ficar concentrada nas análises de um levantamento. Assim, tenho de fato que ser bem elástica em termos de competências.

Nigel Warburton - Sonia Livingstone, muito obrigado.


Tradução: Richard Romancini

Nenhum comentário:

Postar um comentário