Vamos ao texto de Karla, enriquecido pelos vídeos indicados.
O uso de vídeo digital em sala de aula: uma proposta pedagógica
Karla Isabel de Souza [1]
Karlaisabel.souza@gmail.com
A utilização de tecnologia no cotidiano da escola está ligada a uma mudança nas propostas curriculares e pedagógicas. É necessário observar quais são os conhecimentos que o educador tem para introduzir uma nova proposta. A proposta abaixo necessita que educador e estudantes tenham conhecimento em edição de vídeo, uma prática que está cada vez mais fazendo parte do cotidiano dos jovens, principalmente os que são "Nativos Digitais".
As produções que serão apresentadas revelaram que o uso da filmadora tem bons resultados. As produções aconteceram na EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental de Campinas Dulce Bento Nascimento, sob a perspectiva de transformar a escola em um "Centro de Formação e Capacitação" (Freire, 2006), por isso representa uma mudança curricular e pedagógica. A proposta é de Paulo Freire, a ideia é ter na escola, num mesmo espaço, a possibilidade do educador se formar para o uso de tecnologia ao mesmo tempo em que produza e avalia materiais pedagógicos (Souza, 2006).
Quando os vídeos eram apresentados em sala de aula, o conteúdo era discutido, um momento bastante reflexivo em termos pedagógicos, pois se abordava questões sobre o conteúdo (curricularmente falando) e sobre o formato (como melhorar a produção). É o momento em que o educador tem a possibilidade de trabalhar com a interdisciplinaridade, e mesmo sem o objetivo direto, educador e estudantes acabam por desvendar os meios de comunicação de massa.
Outra questão observada se relaciona com a formação de ecossistemas comunicativos. A partir de uma crescente participação, com ampliação das capacidades técnicas, houve além de uma formação crítica com relação aos meios de comunicação uma melhora na comunicação entre educadores e estudantes. Como escreveu Gutiérrez (1998) sobre o uso de mídias em sala de aula, se trata de um processo de desafio duplo, de um lado melhorar a comunicação e de outro educar os receptores de consumidores passivos para críticos.
Nesse contexto podemos falar das produções, observando que o uso do vídeo em sala de aula apresenta pontos distintos que precisam ser comentados, são eles:
- O educador produtor de conteúdo
Este vídeo é o registro de um projeto desenvolvido após assistir o filme Kiriku. Durante todo o processo a educadora recolheu fotos e imagens, organizando a memória do trabalho. Por fim coloca todo o material na trilha de edição do computador e produz um registro seqüencial.
- O estudante produtor de conhecimento
Estudantes em resposta a estímulo de educadora com relação a tema discutido (lixo) escrevem um roteiro e gravam.
- Educador e estudante produzindo conhecimento juntos
Educadora e estudantes escrevem um texto (coletivo) em sala de aula, na parte técnica gravam e editam as imagens.
- A escola como ‘Centro de Formação e Capacitação’
A ideia é fazer do momento de confeccionar um material um momento altamente pedagógico e político. A prática de fazer, de criar, de pensar, de projetar um material adequado, que corresponda à melhora das condições concretas, sociais da comunidade. A prática de executar, de avaliar, de medir a utilidade e a eficiência de um material é uma prática profundamente pedagógica (Paulo Freire, 2003).
- A escola e os canais educativos trocam materiais e fazem parceria em produções
Não é necessário que o educador produza todo seu conteúdo, ter acesso a outras fontes é fundamental. A prática de trocar materiais enriquece o trabalho do educador e para o produtor significa conhecer as necessidades do público.
- Videoteca ligando escolas e outros centros de produção
A comunicação entre escolas, comunidade e televisão gera o que na Educomunicação (Soares, 2008) se denomina formação de ecossistemas comunicativos. É possível trocar conhecimento e melhorar as relações entre educadores, estudantes e comunidade.
Breve Conclusão
A discussão sobre o uso do vídeo em sala de aula possui alguns pontos a serem refletidos. Primeiro pode contribuir com a construção de um formato de programa para um canal educativo, como uma proposta de diversificação de programação. Segundo, na educação, o êxito do emissor (educador) está condicionado à resposta do receptor (estudante), por isso acreditamos que a produção de audiovisual em sala de aula seja uma alternativa para a realidade que as TIC trouxeram para a sociedade. Também acreditamos que nos processos de ensino e aprendizagem, que fazem parte da comunicação persuasiva-sedutora, só cumprem seu objetivo se consegue provocar mudanças de comportamento no destinatário (na maioria dos caso corresponde ao estudante). O estudante está na maioria dos casos como destinatário, no entanto, como tratamos de um processo de construção de conhecimento, o estudante se torna o centro do processo, o que fará com que o mesmo mude de posição, tenha a posição de receptor e de produtor, alternando com o educador. Para o educador representa também uma grande mudança porque deixa de ser o detentor de conhecimento, terá o papel de mediador.
Referências
FERRÉS, J. (1992). Vídeo y educación. Barcelona: Paidós.
FREIRE, P. e GUIMARÃES, S. (2003). Sobre Educação (diálogos) – Vol.2. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
GUTIERREZ, F. (1998). Educação como práxis política. São Paulo.
SOARES, I. O. (2008). Mas, afinal, o que é educomunicação? http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/saibamais/textos/ site visitado em 28/04/2008.
SOUZA, K. I. (2005). Novas Tecnologias e Educação: Preparando a Escola para a Chegada da TV Digital Interativa. (Mestrado em Educação) – UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas. http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000380397
SOUZA, K. I. (2009). Vídeo Digital na educação: aplicação da narrativa audiovisual. Tese (Doutorado em Educação) – UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, 2009. http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000446165
SOUZA, K. I. (2006). Implantação de um Centro de Produção Escolar de conteúdo utilizando-se da linguagem do vídeo digital para um incentivo ao protagonismo juvenil a ser veiculado na TV Comunitária a Cabo de Campinas. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, INTERCOM, Brasília. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R0792-1.pdf
[1] Pedagoga formada pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Mestrado e Doutorado em educação com ênfase em ciência e tecnologia pela UNICAMP. Desenvolvendo investigação de pós-doutorando na UCM – Universidade Complutense de Madri e USP – Universidade de São Paulo.
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