quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Velhice no Cinema



Cláudia Mogadouro
Numa casinha branca, lá no Sítio do Picapau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem passa na estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando: - Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto. Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas – Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem.
Assim tem início um dos clássicos da literatura infantil – Reinações de Narizinho, escrito por Monteiro Lobato, em 1931. Naquele contexto, uma senhora de mais de sessenta anos era considerada velha e sua rotina se resumia à de costura na solidão da varanda. Nossa sorte é que essa velha também adorava contar histórias e por isso fomos brindados com aventuras deliciosas. Por muitos anos, Dona Benta representava muito bem nossas vovós.

Na sociedade de hoje, mais complexa do que a dos anos 1930, há vovós como a Dona Benta assim como velhos que não têm netos, que não pararam de trabalhar, que participam da vida da cidade, fazem sexo, dançam. Alguns reclamam muito da sua condição, outros aproveitam o tempo livre, se divertem, realizam atividades filantrópicas. Uns não saem da igreja, outros fizeram tatuagem, vão às passeatas, enfim, há velhos para todos os gostos...

Nas sociedades indígenas os velhos são pessoas especiais, com muitos privilégios porque, numa cultura oral, a memória e a sabedoria são importantes valores sociais, para a preservação dos saberes do grupo, para sua própria preservação. Nessa perspectiva, envelhecer é amadurecer, tornar-se cada vez mais sábio.

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(Acima, o clássico do neorrealismo italiano Umberto D, de 1952, dirigido por Vittorio De Sica.)

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