Fernando Pessoa
16/03/1935 (Falta uma citação de Sêneca)
Ai que prazer
Não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 122.
*
O belo poema de Fernando Pessoa, assinado "por ele mesmo", é um convite à reflexão sobre a riqueza de significados da literatura e sobre o papel da ironia na mesma. Todo poema propõe, num plano imediato, uma liberdade que é exposta justamente por meio de um texto, que lemos muitas vezes num livro...Na verdade, o poema pode ser visto como uma grande ironia, sendo a citação (faltante) de Sêneca uma parte da mensagem mais profunda, relativa ao que o autor pretende dizer (veja uma análise, nessa linha, aqui).
Seja como for, percebe-se que a liberdade - inclusive a de ler um poema de vários modos - só é possível através do conhecimento.
Por isso, colega cursista, aproveite também o feriado para estudar o conteúdo do Módulo do Material Impresso e fazer as atividades do Mídias na Educação.
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