quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Netiqueta - I

O e-mail é como um aparelho que não usamos direito porque ele chegou sem instruções. [...]

Os mais hábeis (ou sortudos) dentre nós escaparam de ferimentos graves, mas muitos, talvez a maioria, sofreram com e-mails o equivalente a queimaduras, perda de dedos, choques elétricos e fraturas. E-mails precipitados custaram empregos, arruinaram amizades, ameaçaram casamentos, subverteram projetos, levaram até à prisão.

“No e-mail, as pessoas não são elas mesmas”, diz o Guia [resenhado neste texto]. “Elas ficam mais exasperadas, menos simpáticas, menos atentas, mais suscetíveis, até mais fofoqueiras e insinceras.” Os autores reproduzem uma troca de mensagens entre um executivo e uma secretária de uma grande empresa americana na China. O executivo escreveu, grosseiramente:

Você trancou meu escritório no final da tarde impedindo minha entrada. Está pensando que sou uma chave ambulante? Daqui pra frente, não vá embora do escritório sem antes consultar todos os gerentes para quem você trabalha.

A secretária respondeu:

Tranquei a porta porque já entrou ladrão no escritório. Embora eu seja sua subordinada, peço encarecidamente que mantenha a polidez ao falar. Trata-se da cortesia humana mais básica. Você tem suas próprias chaves. Esqueceu de trazê-las, mas mesmo assim tenta jogar a culpa nos outros.

Com dois cliques, a secretária enviou cópias dos e-mails, seu e do chefe, para todo o pessoal da empresa. Em pouco tempo, o diálogo apareceu na imprensa chinesa e fez com que o executivo pedisse demissão.

Outro episódio contado no Guia também envolve um chefe e uma secretária. Nesse caso, a secretária derrubou ketchup na calça do chefe, e ele enviou um e-mail solicitando o reembolso das 4 libras que gastou na lavanderia. Como não recebesse resposta, o chefe insistiu. Finalmente ele – e centenas de pessoas na firma – recebeu este e-mail:

Com referência ao e-mail abaixo, peço desculpas por não ter respondido imediatamente, mas, devido à súbita doença, morte e ao enterro de minha mãe, tive problemas mais prementes do que suas 4 libras.

Volto a pedir desculpas por acidentalmente salpicar sua calça com algumas gotas de ketchup. Obviamente suas necessidades financeiras como alto executivo da firma são superiores às minhas como mera secretária. Já conversei com vários chefes, advogados e estagiários, mostrando seu e-mail, e eles gentilmente se ofereceram para fazer uma vaquinha e coletar as 4 libras.

De novo, o diálogo acabou saindo na imprensa.

Não é preciso mais exemplos. Quem nunca – entre outros atos autodestrutivos – falou mal de alguém num e-mail para depois cometer o erro fatal (clique fatal seria mais exato) de enviá-lo justamente à pessoa difamada? E o que se pode fazer para reparar o dano?”
Trecho de artigo da escritora Janet Malcolm, na revista Piauí. Íntegra aqui.

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