terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Espanha discute propostas para “Ensinar a ver Tv”. NCE/USP estava lá!

Com o tema “Educar la Mirada”, a Rádio e Televisão Espanhola e o Grupo Comunicar, de Huelva, sob a coordenação geral do Prof. José Ignacio Aguaded Gómez, promoveram, entre 29 de novembro e 1º. de dezembro de 2007, no espaço dos estúdios da própria RTVE, na periferia de Madri, o Fórum Internacional de TV 2007. O evento, que contou com a participação de 100 especialistas, entre os quais o Prof. Ismar de Oliveira Soares, coordenador do NCE/USP, discutiu o tema da “educação para a recepção televisiva”. O programa incluiu desde as visões da Europa e da América Latina sobre a análise da produção midiática até as políticas que criaram os Conselhos Audiovisuais em várias das regiões do país com a função de análise e monitoramento da produção veiculadas pelas emissoras públicas e privadas.

A palestra que marcou a inauguração do evento foi proferida pelo Prof. José Manuel Pérez Tornero, da Universidade Autônoma de Barcelona, que, ao situar o presente fenômeno de acesso às múltiplas formas de mídias (“sociedad multipantallas”), por parte das novas gerações, opiniou que o melhor caminho para ensinar a ver tv é o de avançar no caminho da produção midiática, por parte das crianças e jovens. Tornero reconheceu, contudo, que esta não tem sido prática corrente nas escolas da Espanha, necessitando ser implementada de forma adequada a partir de agora, levanto em conta o acesso que as presentes gerações têm às múltiplas formas de expressão audiovisual.

Tornero comentou, ainda, que o tema do seminário ganhava significância maior levando em conta a decisão da União Européia de convidar todos os estados membros em promoverem, de forma regular, nas escolas, a educação para a recepção midiática.

França: Educação para os meios como política pública

Enquanto Agustín García Matilla, da Universidade Carlos III, de Madri, lamentava que os esforços realizados ao longo dos últimos anos não havia obtido êxito no sentido de definir uma política nacional de educação para os meios em seus país, Evelyne Bevort, do CLEMI-Paris, França (www.clemi.org), anunciava que o governo francês acaba de definir que a educação para os meios de comunicação passaria a ser obrigatória nos currículos escolares, para crianças e adolescentes, de 6 a 15 anos: “na próxima semana, estaremos reunindo educadores de várias das regiões da França para realizar um levantamento sobre o que está sendo feito neste campo, de modo a definir uma política de trabalho para todo o país”, informou, acrescentando: “Não vamos impor um modelo, mas teremos em cada escola um especialista para assessorar o sistema educativo sobre os melhores procedimentos para introduzir uma educação para a recepção midiática adequada às necessidades pedagógicas da escola”.

Conselhos regulatórios: polêmica

O tema mais polêmico do fórum foi o das regulações e do controle da programação das TVs e rádios por parte de conselhos especializados. O debate ocorreu no último dia, com as apresentações de representantes dos Conselhos Audiovisuais de três autonomias (Navarra, Catalúnia e Andaluzia), levando em conta que o país ainda não dispõe de um conselho nacional, fato único na Europa. Victoria Camps Cervera, ex-senadora e assessora do Conselho de Navarra, defendeu a existência destes organismos, levando em conta o processo democrático em que a Espanha estava empenhada em construir: “A existência de poderes autônomos e mutuamente controlados não pode sobreviver ao estabelecimento de privilégios, como o de se entregar ao mercado a definição do que seja ou não de interesse para a sociedade e para a vida das pessoas: se o Legislativo controla o Executivo e os dois são controlados pelo Legislativo, por que o poder da comunicação pretende existir sem qualquer tipo de controle social”?. Para Maria Luiza Pérez, de Andaluzia, os Conselhos Audiovisuais somente terão condições de funcionar caso seus membros sejam escolhidos por consenso entre os partidos políticos e tenham - os mesmos - efetivas condições de acesso à programação das emissoras de rádio e de TV, dialogando com a sociedade sobre suas opiniões a respeito das programações”. Para ela, como para os dois outros membros da mesa, a palavra “controle” deveria ser ressemantizada, uma vez que pertence ao campo da democracia, sendo entendia, contudo, por muitos como unicamente pertencente ao campo da ditadura. A platéia, formada por muitos jornalistas e produtores audiovisuais, se dividiu, tendo alguns dos participantes manifestado seu interesse em contar, não com um organismo de controle, mas com uma instância de colaboração, em condições de dialogar com os produtores midiáticos: “Queremos contar com colaboração da sociedade para melhor servi-la”, disse uma das jornalistas presentes. Todos concordaram, contudo, com uma ação que deve ser feita imediatamente: criar procedimentos educativos que garantam a todas as crianças e jovens e a seus pais, referências e elementos metodológicos de análise que lhes possibilitam uma convivência adequada com o sistema de meios de informação.

Educomunicação

O tema da educomunicação foi apresentado pelo coordenador do NCE/USP, no painel sobre “Visiones latinoamericanas para educar a ver TV”. Na ocasião, o Prof. Ismar Soares defendeu a tese de que a melhor forma de educar para ver TV é criar condições para que os alunos possam produzir vídeos, fazendo a auto-crítica de sua própria produção coletiva. Teceu comentários a respeito da preocupação do Ministério da Cultura, no Brasil, no sentido de criar uma política nacional de educação para a mídia. Terminou sua apresentação falando da sinergia, no Brasil, do projeto do MinC com o do MEC, responsável, este último, pelo Projeto “Mídias na Educação”, que vem sendo implementado junto a 25 mil professores em todo o país, contando, no Estado de São Paulo, com o concurso do Núcleo da USP.

Revista Comunicar

Durante o evento foi anunciado que a Revista Comunicar, da Universidade de Huelva, Espanha, trará, em sua edição de março de 2008, uma série de artigos de autores como Jesús Martín Barbero, Guillermo Orozco, Nestor Canclini e Ismar Soares sobre a educação para os meios, na América Latina. A revista, editada pelo Grupo Comunicar, criado há 20 anos, sob a responsabilidade de uma equipe coordenada pelos Professores Jose Ignácio Aguaded e Enrique Martinez-Salanova Sáncez, acaba de receber, da Universidade Carlos III, de Madri, o prêmio de melhor publicação científica em sua área, em toda a Espanha. Para conhecer a revista, ir para o site: http://www.uhu.es/comunicar/.

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