sexta-feira, 28 de junho de 2013

Borges e a física quântica



Alberto Rojo

Entrada no labirinto

A 9 de julho de 1985, por puro acaso, troquei umas palavras com Borges. Recordo-me da data porque era um dia depois do meu casamento e, antes de partirmos para a lua de mel, minha mulher e eu tínhamos ido saudar meus pais, que estavam alojados no Hotel Dora, na Rua Maipu, 900. Minha mãe me pegou pelo braço e me levou ao restaurante. As mesas estavam vazias, exceto uma, e ali estava Borges, sentado junto de uma mulher, que provavelmente era Estela Canto, com quem ele falava às vezes em inglês e às vezes em castelhano. Diria que me senti diante de um personagem fictício e, paralisado, pela fascinação de comprovar que sua aparência correspondia às imagens de publicidade, examinei-o como se olhasse as estátuas, que não nos podem devolver o olhar. Vestia um traje, uma gravata ajeitada, e em seu prato havia um simples montinho de arroz branco. Meu pai me convenceu a irmos falar com ele.

Esperamos que terminasse de almoçar, e quando o garçom, que o tratava por “mestre”, lhe trouxe uma xícara com um saquinho de chá, nos aproximamos de sua mesa. Meu pai iniciou o diálogo e, Borges, que se mostrou encantado com a ideia de conversar, nos presenteou com algumas fábulas de sua erudição. Falou de Deus, do minotauro e criticou duramente Ortega Y Gasset (“O conheci em sua visita à Argentina e me pareceu ser um zero à esquerda”).

Minha única intervenção foi comentar-lhe que alguns textos de física faziam referência a sua obra. Nessa época eu estava terminando minha licenciatura no Instituto Balseiro e nessa ocasião aludi às citações de A loteria na Babilônia, onde Borges reflete sobre o acaso e o determinismo. Borges me falou de sua ignorância em matéria de física, com uma resposta desconcertante que eu haveria de mencionar até a exaustão em conversas informais com colegas. Um encontro pessoal com Borges é uma grande desculpa para a vaidade; todo mundo percebe que sua fama é um universo em constante expansão. Por exemplo: a biblioteca da Universidade de Michigan tem mais de 500 livros sobre ele, mas poucos sabem que ele era um home acessível e que falava de maneira igual tanto com um notável como um desconhecido.

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(Acima, primeira parte de vídeo com uma entrevista com o físico, autor do texto acima, da Oakland University, em Michigan (EUA), e também escritor e músico, Alberto Rojo, que fala sobre o mesmo tema do texto: as relações entre o escritor argentino Jorge Luis Borges e a física quântica.)

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