Matéria da Folha de S. Paulo (para assinantes aqui e íntegra a partir do “leia mais”) de ontem discute o uso da Internet na pesquisa, a partir de uma investigação chamada “Comportamento Informativo do Pesquisador do Futuro”. Como nota o jornalista Luis Nassif (aqui), o título um tanto apocalíptico - “Estudo destrói mito de que Geração Google é melhor no mundo virtual” - é enganador. A reportagem é equilibrada, enfocando também possibilidades positivas trazidas pela rede.
Postado por Richard Romancini
Folha de S.Paulo - 09/02/2008
Estudo destrói mito de que Geração Google é melhor no mundo virtual
Para pesquisador britânico, a sociedade como um todo está ficando mais burra
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Geração Google, Net Generation, Nativos Digitais -há muitos nomes para quem não se lembra do mundo pré-internet. Mas, apesar do sucesso do rótulo, a idéia de que a Geração Google tem facilidades especiais para lidar com a informação virtual não passa de mito.
É o que afirma o estudo "Comportamento Informativo do Pesquisador do Futuro", liderado por Ian Rowlands, da University College de Londres. De acordo com ele, o uso da internet é superficial, promíscuo e rápido, e respostas com pouca credibilidade encontradas por ferramentas de busca como Google ou Yahoo prevalecem.
"Acadêmicos mais jovens não estão usando conteúdo de bibliotecas de uma maneira séria. Usam o Google, porque é mais conveniente. Isso vai limitar seus horizonte de pesquisa", afirmou Rowlands à Folha, por telefone, de Londres.
A pesquisa define como Geração Google os nascidos depois de 1993. Ela foi feita pela revisão de estudos já publicados sobre mecanismos de busca e análise de informação, associando-os com dados sobre como o público usa hoje sites como o da Biblioteca Britânica.
Rowlands afirma que ficou rapidamente claro que não é possível generalizar as crenças sobre habilidades da Geração Google. Até a idéia de que jovens gastam mais tempo on-line do que os mais velhos foi relativizada.
Mas foram detectadas tendências preocupantes. "A sociedade está emburrecendo", diz o estudo. "Passam os olhos por títulos, índices e resumos vorazmente, sem leitura real".
E o comportamento ultrapassa a barreira da idade. "Até professores, que supostamente teriam meios mais sofisticados para buscar e analisar informações, mostram as mesmas tendências", afirma o pesquisador.
O estudo vê uma possível ameaça às bibliotecas. "Meu instituto gasta uns US$ 4 milhões por ano em publicações acadêmicas, mas os alunos preferem ferramentas simplistas. É frustrante", diz Rowlands.
Na era da enciclopédia
No Brasil, acadêmicos ouvidos pela Folha divergem sobre as conclusões da pesquisa. Para Renato Rocha Souza, do Departamento de Organização e Tratamento da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, é mesmo problemática a primazia do Google em atividades acadêmicas. "A arquitetura dessa ferramenta privilegia páginas mais citadas na internet, e essa relevância nem sempre é real", diz.
Para ele, "alunos não sabem distinguir um site de artigos acadêmicos do "blogue do joãozinho'". "E não têm pudor em citá-lo. Falta juízo de valor."
Contudo, ele não acha que a tendência tenha surgido com a internet. "Não era tão diferente quando pesquisávamos nas enciclopédias. O que mudou foi a oferta de informação", afirma.
Já Aldo Barreto, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, discorda de Rowlands. "Nunca foi feita tanta pesquisa e de tão boa qualidade quanto atualmente, graças à internet , afirmou à Folha, do Rio de Janeiro.
Para Lawrence Shum, especialista em mídias digitais da PUC de São Paulo, "a internet tem problemas, mas está no caminho da auto-regulação".
E muitos vêem vantagens na busca pelo Google. Segundo Carlos Frederico D'Andrea, coordenador do Laboratório de Comunicação Digital do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, "a biblioteca dá a ilusão de que o conhecimento está todo ali e é inquestionável". "Na internet, o resultado é sabidamente instável e não vai ser usado cegamente. Mas é preciso treino adequado."
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